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Mostrando postagens de 2009

BONECAS RUSSAS

U m filme que trata da busca amorosa, um assunto inerente ao ser humano. A grande maioria dos pacientes que passam no meu divã traz como foco da análise O AMOR. Seria esta a moral da história no filme? A busca incessante e infindável do amor? Quando achamos que aquele é o último tem sempre uma bonequinha dentro da outra para mostrar a continuidade, o inesperado, o novo. Normalmente observamos dois tipos de postura em relação ao amor, em uma delas o amor atual é vivido como se fosse o último e eterno, aquela coisa que transcende a vida, a grandeza do sentimento é tanta que achamos que não cabe nada além disso. Vive-se também como se fosse o primeiro, saboreando a novidade, o encantamento de todos os começos. X avier, o protagonista da história, é angustiado com o fato de escrever sobre amor, mas nunca viveu isso de forma verdadeira e duradoura. Como escrever sobre algo que não foi vivenciado? V ou me concentrar em três pontos do filme: 1º - O SOCIAL Xavier quer apresentar um

PAI, MÃE, FILHOS...

> Outro dia acompanhei uma discussão no Orkut sobre a importância da tríade pai, mãe e filho na sociedade atual. A comunidade chama-se “psicanálise clinica”. A pessoa que abriu defendia o fato de que apesar dos valores da sociedade atual, nada substitui esta tríade fundamental para a construção psíquica saudável do ser. Ainda ressalta que um não consegue fazer o papel de dois e que o mito de PÃE é muito difícil de ser desempenhado de forma completa. Depoimento do Renato D’Martino: O mito do Pãe - Acumulo de função; o mito do Pãe A denominação “Pãe” é interessante e perigosa. Sugere onipotência (extremamente prejudicial como modelo de ser humano), um super-herói, alguém que na verdade não existe, pois deixa de viver sua própria vida em função do outro. Penso que a tarefa de cuidado dos filhos é sempre melhor sucedida quando feita em uma dupla, porém, em qualquer que seja a tentativa de dividir a pratica dessa tarefa, o afeto é um ingrediente indispensáve

A BUSCA DO PRAZER

A luta constante com meus pacientes não é pela busca do prazer, mas onde este reside. Dependendo do grau de insatisfação, depressão, melancolia, fica difícil conceituar isso, enxergar, sentir. Até mesmo a baixa auto-estima leva a um boicote quanto a este “desfrute”.Muitos não se permitem e não se julgam merecedores desse tão almejado prazer. O alvo de prazer ou felicidade pode mudar muito de acordo com a situação, o momento. A nossa fonte de prazer de ontem pode não ser a mesma de hoje. Isso faz parte do amadurecimento, das mudanças de foco e, até mesmo, da prioridade das futilidades que nos permitimos desfrutar. Lendo o livro Manual do Hedonista, Dominando a esquecida arte do prazer , autor Michael Flocker , apreendi muitas coisas interessantes sobre o assunto. Flocker é enfático quando diz que o prazer não se limita a deitar em uma rede, não fazer nada mas “criar uma vida que seja ao mesmo tempo interessante e agradável” . Este prazer interessante e de qualidade não se trata de lux

ANGUSTIA X FANTASIA

P or que algumas pessoas precisam da angústia para viver? É uma realidade que presencio na vida, no dia a dia, no consultório. Em um exemplo bem banal, podemos notar que o sofrimento é o que mantém audiência nas novelas, nos filmes. A mocinha e o vilão das novelas tem que criar uma situação tensa por mais de seis meses para segurar o público, a felicidade não prende, não mantém a fidelidade de quem assiste. A angustia é tão inerente ao ser que algumas pessoas resistem a terapia por não saber o que seria delas se aniquilassem esse sentimento. O que será de mim sem a minha depressão? Inacreditável, mas isso existe. Muitas não assumem. Algumas, quando vêem que algo está se resolvendo para diluir a angústia, não aparecem mais no consultório, somem ou dão uma desculpa banal para finalizar as sessões. Há o boicote também de dar pra trás quando tudo começa a dar certo. Isso tem a ver também com a autopunição, auto-estima baixa, não se achar merecedor. A felicidade não é um estado cons

IN TREATMENTE (EM TERAPIA)

Quem acompanha o seriado americano “in treatment” vai entender o que estou falando. Para quem não acompanha, trata-se das sessões semanais de um psicoterapeuta e seus pacientes, tendo ainda sua própria terapia semanal e algumas cenas de sua vida pessoal. Cada dia da semana é destinado a uma paciente. No primeiro episódio temos uma noção da contratransferência com a Laura, uma paciente extremamente sedutora, que se apaixona pelo analista e tenta seduzi-lo para que este faça parte de mais uma de suas conquistas, sendo este o meu ponto de vista. Pela história de vida dela não consegui enxergar de outra forma. Como o casamento de Paul(o analista) vinha enfrentando uma crise, ele se deixou seduzir, não concretizando o ato devido à ética da sua profissão. Neste ponto ele entra em cena com Gina (sua terapeuta e mentora), expondo seus conflitos em relação a profissão e o que deve se abdicar da vida em prol desta. Neste momento vem à tona a humanidade do terapeuta, mesmo dia

Singularidade plural do ser-humano

"Porque será que insisto em temas complexos com títulos esquisitos? Tem sempre um sujeito em mim gritando por uma luz que descortine o mosaico colorido dos meus significantes. A percepção confusa das infinitas representações simbólicas caoticamente costuradas numa translúcida teia de estruturas fugazes de aparência sólida como uma miragem, a me levar por uma existência sem fim, implora por alguma compreensão". Esse é o registro de um dos "meus sujeitos". Mas há outros: que desejam, que sentem, que sofrem, que agem, que tocam. Essa pluralidade de sujeitos me tornam um sujeito-sintoma singular . Um ser-humano singular . Em geral, somos singulares pela pluralidade que nos estrutura. Pelas afetos produzidos ao longo de toda nossa existência, pelas escolhas que fazemos e deixamos de fazer, pela multiplicidade do discurso do outro que atua de maneira recíproca entre os interlocutores envolvidos, pela interdependência de todos os fenônemos que percebemos. Mas isso pode dei

Desculpem o sumiço!

Amigos(as), Estive ausente durante os últimos dias e não trouxe nenhuma novidade para o blog. Foi mal! (rs) Prometo algo novo na próxima semana. Enretanto, nesse final de semana minha colega Leila vai fazer uma apresentação cujo tema é "Pai Ausente". Será o primeiro encontro do grupo "Por Dentro do Ser", aqui em Brasília, que terá o propósito de debater questões da psique humana, de uma maneira crítica e inovadora. Tenho certeza de que será um sucesso. Quem se interessar, entre em contato pelo blog! abraços e até semana que vem.

Desejo, sujeito da psicanálise e ser-humano

Hoje pretendo fechar o raciocínio a respeito do desejo e a constituição do sujeito, que se iniciou no primeiro texto que postei. Para isso é importante marcar com atenção, desde o início, a distinção que há entre dois conceitos diferentes e que, até a publicação desse texto, não havia sido feita de forma clara: o sujeito do inconsciente ou sujeito da psicanálise, incurável, objeto de atuação dos psicanalistas e cuja formulação, no meu modo de ver, nem sempre é clara (em tempo, apesar de prolixo, Lacan tem um pouco mais de êxito nessa tarefa do que Freud) e o "sujeito-sintoma" ou ser-humano, que sou eu, você e qualquer um andando na rua ou lendo este blog. O primeiro se constrõe no setting psicanalítico, ou seja, no consultório. Deitado no divã, o analisando teia junta com o analista a trama linguística de inconscientes que desvela a cadeia de significantes e dá origem a esse sujeito da psicanálise . Ele é produto do fenômeno psicanalítico, do "aqui-agora" psicana

Desejo e sublimação 2

Como eu disse na semana passada, Freud também tratou da questão da sublimação do desejo, mas para encontrá-la em seu texto O Mal-Estar da Civilização farei um percurso mais extenso pelos seus argumentos. Mas não se preocupem, pois esse caminho é extremamente interessante para o debate que proponho. Freud inicia o referido texto às voltas com uma inquietante colocação feita por um amigo (Romain Rolland), a respeito da fonte da religiosidade, que seria experimentada por milhões de pessoas. Trata-se de um "sentimento oceânico" compreendido por Freud como sendo um sentimento de vínculo indissolúvel, de ser uno com o mundo externo como um todo. Na sua experiência ele (Freud) não conseguiu se convencer da natureza primária desse sentimento reconhecendo, todavia, que isso não lhe daria o direito de negar que ele de fato ocorra em outras pessoas. Diante dessa situação, ele propõe uma explicação psicanalítica para essa questão. Ao debruçar-se para melhor apreciação do tema, Freud se r

Desejo e sublimação

O texto que postei na semana passada revela a inquietação inicial de um trabalho entitulado: "Estruturação do sujeito, psicose e diálogos proibidos". Nele revelei meus questionamentos sobre uma visão que considero estreita e ao mesmo tempo fértil acerca da noção de estruturação do sujeito, trazida pelo pensamento psicanalítico. Questioná-la não significa descartá-la e, o que fiz, foi revelar um diálogo silencioso, porém inquietante, entre o saber psicanalítico e sabedoria budista. Portanto, o que vocês poderão acompanhar ao longo das próximas semanas é a continuidade desse trabalho, constituído pela dialética entre a pulsão de vida e a pulsão de morte, inerente ao sujeito. Divirtam-se! Como eu ia dizendo em relação ao desejo, "seria possível ultrapassá-lo?" Em 1960, ao tratar da ética do sujeito, conforme registrado no Seminário 7, "A ética da psicanálise", Lacan partiu das considerações de Aristóteles, Sade e Freud sobre o tema para chamar a atenção sobre

Sujeito do desejo?

O sujeito é um fenônemo. Um continum que aparece e desaparece no discurso, seja ele exteriorizado ou não. Um flash discursivo contínuo amarrado a um vir-a-ser. Como as chapas de um filme que, reproduzidos seguidamente e a uma certa velocidade, dão uma aparência de algo inteiro e não fragmentado, de algo existente, com início, meio e fim. Engodo. Engodo dos sentidos. Mas que sentido há nisso? Qual é a cadeia de significantes que da ordem a tudo isso? A cadeia que se estrutura a partir da relação com o corpo e com o discurso do Outro. Linguagem corporal e linguagem verbal que organizam a passagem do Real ao simbólico. Um nome e uma forma, apenas. A ignorância do numenum dando origem à apreensão dualista de natureza simbólica. Na origem, apenas aquilo que, na psicanálise, ganhou a alcunha de "terror sem nome": o vazio. E daí, o que se toma como existente, está sempre aprisionado (i) pela fuga do que não se conhece e se teme conhecer - a morte desse sujeito da ilusão - e (ii) pe