Colcha de retalhos é um filme de 1995, um dos meus favoritos da vida.

Enquanto elabora sua tese e se prepara para se casar Finn Dodd (Wynona Ryder), uma jovem mulher, vai morar na casa da sua avó (Ellen Burstyn). Lá estão várias amigas da família, que preparam uma elaborada colcha de retalhos como presente de casamento. Enquanto o trabalho é feito ela ouve o relato de paixões e envolvimentos, nem sempre moralmente aprováveis mas repletos de sentimentos, que estas mulheres tiveram. Neste meio tempo ela se sente atraída por um desconhecido, criando dúvidas no seu coração que precisam ser esclarecidas.” ( Do site Adoro cinema)


A relação de Finn com a mãe é bem complicada. Os pais dela se separaram quando ela ainda era bem pequena mesmo dizendo que o amor não tinha acabado. Durante anos a mãe fez inscrições negativas sobre casamento:

- Monogamia não existe

- Quando se casasse, logo Finn iria arrumar um amante.

- Compromissos para a vida toda são impossíveis.

Quando ela já tinha amarrado todas as ideias negativas sobre monogamia e casamento, quando ela tinha criado toda um nó emocional sobre relações, a mãe vem com uma história que iria reatar com o pai de Finn e que nunca deixaram de se amar. Isso gerou uma revolta, o conflito emocional dos pais trouxe toda uma confusão para a vida emocional e decisões dela. Inclusive estava diretamente ligada as teses de mestrado que ela começava e não terminava. Dentro desse contexto algumas falas de Finn são bem significantivas:

- Por causa de vocês eu sou uma perdida.

A mãe respondeu:

- Você não é perdida, você sabe o que quer, só está com medo.

A mãe tinha razão, acho que Finn tinha medo de concluir as coisas, então não finalizava suas teses e deixava o namoro em suspenso. Quando se envolveu com um homem das redondezas ela só queria, de forma inconsciente, legitimar o discurso da mãe, de que era impossível vivenciar uma relação por longo tempo, se envolver amorosamente com apenas uma pessoa.

Outro dialogo com a mãe, também muito importante:

- Você gosta do Sam? ( Noivo de Finn)

- Sim

- Por que nunca me disse?

- Porque eu não achei que importava.

Como a opinião, as falas, as inscrições dos nossos pais importam. Como os filhos tentam legitimar o discurso deles por mais que não sejam produtivos, construtivos e de alguma forma tentamos conquistar essa aprovação. Quando repetimos nos sentimos pertencentes, aceitos, acolhidos de maneira tosca, estranha. E repetimos, repetimos, até ter maturidade para quebrar o ciclo improdutivo e construir.

Finn tinha uma tensão quanto a conclusões, não conseguia finalizar sua tese. Quando a ventania levou grande parte do que tinha escrito, ela achava melhor começar outro assunto em vez de resgatar o mesmo tema e dar continuidade. A avó questionou esse comportamento repetitivo de não finalizar seus processos, de estar sempre recomeçando e como disse a mãe, ela tinha medo. Medo do seu querer, medo de concluir, medo que desse certo. Estava tão acostumada com o desequilíbrio, que o equilíbrio era um mundo muito desconhecido e assustador.


Outra história que merece nossa atenção é das avôs de Finn. Glady descobriu uma traição da irmã com seu marido. Toda vez que lembrava do episódio quebrava alguma coisa com sua fúria e montou uma parede destes cacos, isso mesmo, uma parede de cacos, uma materialização da dor. Quantas vezes materializamos nossa dor? Seja em uma carta, um objeto, qualquer coisa material que nos traga a lembrança do episódio.

Glady fez isso para não esquecer, para não perdoar. Para que quando pensasse em perdoar a parede, a dor materializada fizesse ela reviver tudo. Simmmm, muita gente vive isso. O que a pessoa não entende é que uma espécie de auto punição, um veneno diário, que não tem mais a ver com o outro, mas é o seu próprio sentir. Em um momento específico do filme ela percebeu que a parede não fazia mais sentido e destruiu, elaborou.


Por fim, um poema que vou trazer da história de Maryanna:

“Jovens amantes procuram a perfeição.

Velhos amantes aprendem a arte de costurar, unir os pedaços e ver a multiplicidade dos remendos.”

A perfeição não existe, não deve ser almejada. O que existe é o aprendizado dos nossos momentos costurados e remendados e aí reside o amor, no amadurecimento que as imperfeições nos traz.


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